Em fevereiro de 1964, quando os Beatles desembarcaram pela primeira vez em Washington D.C., o fotógrafo americano Mike Mitchell, então um jovem freelancer de 18 anos de idade, sacudiu o crachá de imprensa no ar e abriu um espacinho na multidão que se aglomerava na Union Station para fazer uma foto— Paul McCartney sorrindo com os lábios e com os olhos.
Na mesma tarde, quando os meninos de Liverpool se reuniram em torno de uma mesa retangular para atender os jornalistas que queriam saber tudo sobre o primeiro show da banda nos Estados Unidos, Mitchell também estava lá. Registrou os olhares de excitação dos ingleses e dos repórteres a sua frente.
Horas mais tarde, quando o quarteto finalmente subiu ao palco do Washington Coliseum e incendiou para sempre a plateia americana, lá estava ele de novo. A menos de um metro de distância de John, Paul, Ringo e George, clicou o entusiasmo da estreia.
"Na hora não me dei conta de que estava vivendo um momento histórico, vendo uma verdadeira invasão britânica", diz Mike Mitchell ao GLOBO, por telefone.
"Eu só pensava em clicar, em aproveitar a luz ambiente, a única que eu tinha, e em exercitar minha habilidade com retratos. Eu não era um fotógrafo de eventos. Minha câmera não tinha flash nem zoom, e meu filme era preto e branco. Precisava me virar".
Então o menino que tinha ganhado uma câmera Brownie Hawkeye de presente do pai e que passava horas debruçado sobre as páginas da revista “Life” para admirar as fotografias de W. Eugene Smith tirou quase 600 fotos. Vinte rolos num piscar de olhos. E isso porque ainda não era fã do quarteto e, em tempos pré-paparazzi, cumprimentou Paul diante de uma máquina de Coca-Cola e nem registrou o momento.
"Aí voltei para casa e guardei tudo no porão", lembra o fotógrafo. "Eu sabia que tinha presenciado algo importante, mas só tive a dimensão do todo muitos anos mais tarde".
E, se não fosse pela crise econômica que aterrorizou os Estados Unidos e bateu com violência à porta do fotógrafo, o mundo jamais teria visto os retratos da estreia dos Beatles na América.
Em 2008, preocupado em fazer um pouco mais de dinheiro, o fotógrafo de arte resgatou entre as tralhas de seus porões os vinte rolos daquela temporada. Mostrou-os ao amigo Russ Lease, um dos maiores colecionadores dos Beatles hoje em dia, e enxergou um pote de ouro:
"O Russ ficou extasiado, parecendo menino bobo. Me disse que eu tinha raridades, me estimulou a limpar e a escanear tudo e a procurar a Christie’s para um leilão. Demorei mais de 500 horas para restaurar o que tinha, mas valeu a pena. As fotos são ótimas".
Graças a isso, desde segunda-feira, a casa de leilões expõe em sua sede em Nova York 46 dos 600 retratos dos Beatles nos Estados Unidos — os melhores e mais bem conservados depois de quase 50 anos de muito mofo e poeira.
Na próxima quarta-feira, a casa leva as fotos a leilão, em lotes individuais com preços iniciais que oscilam entre US$ 500 e US$ 6 mil. A intenção é arrecadar pelo menos US$ 100 mil.
"Acho a cifra conservadora", adiantou Cathy Elkiers, responsável pelo leilão na Christie’s. "Beatles é como Marilyn Monroe. Tem alto potencial de venda entre fãs e colecionadores e deve superar esse valor facilmente. Para ícones pop desse porte, o céu é o limite".
Entre as imagens, a que deverá gerar maior frisson, segundo Cathy, é, curiosamente, a que mostra a banda de costas.
"Ela tem uma boa composição, boa luz, marca as silhuetas dos quatro e é enigmática".
O lance inicial pela imagem é de US$ 2 mil. A Christie’s aceita compras internacionais por telefone, fax ou e-mail. Ainda oferece em seu site uma janela em que o internauta acompanha o trabalho do leiloeiro ao vivo e realiza ofertas com um único clique.
Se alguém ai tiver o dinheiro e for totalmente maluco por Beatles poderia por favor comprar as fotografias para nós??
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